É engraçado como as lembranças nos assaltam em alguns
momentos. Simplesmente surgem do nada, aparecem flutuando no ar, como aqueles
pontinhos brilhantes que me encantavam quando eu abria os olhos pela manhã,
dormindo na casa da minha avó. Bem mais tarde percebi que não passava de um
raio de sol que entrava pela janela e fazia aquele efeito mágico refletindo luz
nos milhares de fragmentos de pó que flutuavam no ar... Mas confesso que minha
primeira teoria era mais interessante. Eu pensava, em minha concepção infantil,
que era uma fadinha que vinha me acordar, e que ela morava ali, na casa da
minha avó. Uma fadinha brilhante que tinha cheiro de café com leite. Tinha
cheiro de sol. Tinha cheiro de vó!
E o tempo passou, o raio de sol na janela deixou de ser a
fadinha mágica com cheiro de café com leite. A pressa em acordar e correr para
o trabalho expulsou a fadinha das manhãs de sol. No lugar dela quem me acorda
hoje é o despertador, e os emails que começam a chegar antes mesmo de levantar
da cama. Os pontinhos brilhantes não são mais perceptíveis, e o pó virou apenas
pó. Cadê a magia? Cadê a fadinha?
Corro para o trabalho, o mesmo que tanto sonhei quando
pequena. Ou talvez não seja exatamente o mesmo pois quando pequena sonhava em
ficar grande para poder fazer todas as coisas que desejava... e não podia! Pois
então, eu cresci. E isso não mudou. Eu continuo querendo fazer coisas que não posso.
E pior... sem a fadinha com cheiro de café com leite das manhãs de sol na casa
da minha avó. Será que crescer é isso?
Crescer é mais do que isso. Não é fácil enfrentar a vida sem
a fadinha. Mas ao mesmo tempo é fascinante quando percebemos que nós mesmos nos
tornamos donos do que queremos ser. O trabalho pode não ser o que sonhamos quando
crianças... pode ser mais! E nossas conquistas podem ser maiores e,
principalmente, reais! É só trazer cada pontinho brilhante que move nossa
criatividade infantil para dentro de nossas organizações. Já pensou quanta
coisa se pode fazer com um raio de sol com cheiro de café com leite?
Ok, ok, eu me rendo... isso é fantasia infantil... isso não
existe em nossa correria do dia a dia, nem em nossos planejamentos
estratégicos super sofisticados com investimentos incalculáveis.
Mas... daí eu pergunto: Por que seus funcionários fogem para
postar mensagens nas redes sociais sempre que você desvia o olhar? O que eu
vejo é uma explosão de fadinhas brilhantes em mensagens replicadas milhares de
vezes... Replicadas, repetidas, não criadas ou vividas. Apenas reflexo de uma
luz que vem de fora mas que remete a algo que em algum momento fez sentido.
E o que fazemos, em nome da segurança de nossas empresas e
controle das informações? Tentamos represar o pensamento que passeia numa
grande rede arquetípica moderna. Em vão! O pensamento não se represa sob pena
de matar a criatividade.
Lanço aqui um desafio! Uma nova campanha! Diga o que inspira
suas manhãs de sol e faz você levantar para mais um dia de trabalho. É aí que
reside o seu desejo de crescer. É aí que você vai encontrar a luz que tanto
busca para aquele problema que parece insolúvel. É aí que você vai encontrar o
prazer de ser gente grande.
Eu começo – meu raio de sol tem cheiro de café com leite na
casa da minha vó!
Cladismari Zambon